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Do dado à decisão: o papel estratégico dos Registros Nacionais nas UTIs

A complexidade do cuidado intensivo exige dados confiáveis, atualizados e granulares para embasar decisões clínicas, administrativas e políticas. Nesse contexto, os Registros Nacionais de Terapia Intensiva têm se consolidado como ferramentas essenciais para aprimorar a qualidade, a eficiência e a segurança na assistência a pacientes críticos.

Nas últimas décadas, diversos países implementaram registros de qualidade clínica nas UTIs. Eles coletam, de forma padronizada, dados sobre características demográficas, diagnósticos, gravidade das doenças, intervenções realizadas, complicações, mortalidade e outros desfechos. Com base nessas informações, é possível avaliar o desempenho das unidades, identificar variações injustificadas no cuidado, fomentar o benchmarking e orientar estratégias de melhoria da qualidade e de planejamento de recursos.

No Brasil, o registro nacional UTIs Brasileiras, apoiado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e baseado na plataforma Epimed Monitor, abrange cerca de metade dos leitos de terapia intensiva adultos do país, acumulando mais de 7 milhões de internações. Esse banco de dados tem sido fundamental para a vigilância de doenças emergentes, como a COVID-19, o planejamento de leitos e insumos, além de apoiar a pesquisa clínica e a educação em saúde.

Um exemplo notável é o estudo ORCHESTRA, que analisou mais de 475 mil admissões em mais de 200 UTIs ao longo de uma década. Os resultados demonstraram que unidades com maior adoção de protocolos clínicos, uso de checklists e presença de profissionais como farmacêuticos e intensivistas em tempo integral apresentaram menores taxas de mortalidade e maior eficiência na utilização de recursos. Assim, o estudo reforça que práticas organizacionais impactam diretamente os desfechos dos pacientes.

Além disso, os registros permitem análises contínuas com devolutivas às equipes assistenciais. Esse ciclo de auditoria e feedback (audit-feedback) tem se mostrado eficaz em várias regiões, inclusive na América Latina, ao possibilitar intervenções baseadas em dados reais e adaptadas ao contexto local. O uso de algoritmos de aprendizado de máquina e ferramentas preditivas, como os modelos EPM, amplia ainda mais o potencial dos registros, permitindo identificar riscos precocemente e personalizar o cuidado.

Os registros também desempenham um papel crucial na promoção da equidade e da transparência no sistema de saúde. Ao disponibilizar dados acessíveis e comparáveis, promovem a responsabilização dos serviços e subsidiam decisões políticas baseadas em evidências e nas reais necessidades da população.

Em síntese, os Registros Nacionais de UTIs representam um avanço significativo na forma como organizamos, avaliamos e aperfeiçoamos os cuidados intensivos. Ao transformar dados clínicos em conhecimento acionável, eles contribuem para salvar vidas, otimizar recursos e fortalecer uma cultura de qualidade e aprendizagem contínua no cuidado crítico.

Clique aqui para acessar o perfil microbiológico das unidades de terapia intensiva do Brasil mapeadas pelo projeto UTIs Brasileiras.