Epimed na Mídia

A cada 3 intubados por covid na UTI, em Campinas, 2 morrem

Estatística macabra mostra o grau de agressividade do vírus que abala o sistema de saúde do País

Diogo Zacarias/ Correio Popular
Paciente contaminado por covid é levado de ambulância ao Hospital de Clínicas da Unicamp: nova variante do coronavírus faz doentes chegarem em estado grave

No momento em que a crise do coronavírus abala as estruturas do sistema de saúde tanto público quanto privado e que conseguir um leito hospitalar já não é uma garantia, um dado do projeto UTIS Brasileiras, da Associação fde Medicina Intensiva Brasileira (Amib), torna a situação atual ainda mais dramática. A cada três pacientes graves vítimas da covid-19 que são intubados nas Unidades de Terapia Intensiva, dois vão a óbito. Em Campinas, essa dado macabro também se confirma, segundo o Departamento de Vigilância Sanitária (Devisa).

De acordo com o levantamento da Amib, com dados de 1.555 UTIs do país, atualizados no último dia 10 de março, com apoio do Epimed, uma ferramenta de análise de dados e desempenho hospitalar, 66,3% dos pacientes graves acometidos pela covid nas UTIs brasileiras morrem.

O levantamento, que pesquisou 20 mil leitos (1/3 dos leitos do país), considera pacientes graves, aqueles que estão internados e demandam apoio de ventilação mecânica para continuar respirando. Ainda conforme o estudo, entre pacientes vítimas da covid-19 internados em UTI e que não precisaram ser intubados, a taxa de mortalidade é de 35,6%.

De acordo com o estudo, a taxa de mortalidade varia entre o sistema público e privado, com maior incidência na rede pública. A precariedade do sistema, a sobrecarga de demanda aliada à letalidade do vírus explicam os óbitos.

Especialistas alertam, ainda, para as chances de agravamento dos números por conta do atual momento de crise, com novas variantes do vírus em circulação. “Esse é sem dúvida o pior momento para ser hospitalizado. O sistema não está funcionando na sua plenitude, portanto, não conseguimos obter com os pacientes os melhores resultados”, disse o médico intensivista, Ederlon Rezende, coordenador do projeto.

O estudo acompanha as informações das UTIs brasileiras desde o início da pandemia. E na comparação com outros países a taxa de mortalidade brasileira é apontada como bastante preocupante. “No Reino Unido, por exemplo, a taxa de mortalidade para pacientes graves de covid-19 é de 42%, e, na Holanda, chega a 44%”, reforça o médico.

Campinas

Em Campinas, a diretora do Departamento de Vigilância Sanitária (Devisa), Andrea Von Zuben, informou que realizou um levantamento sobre a taxa de mortalidade nas UTIs da cidade e confirmou que dois terços dos pacientes graves internados nas unidades de terapia em UTI na cidade vão a óbito.

Para o prefeito Dário Saadi (Republicanos), que é médico, a taxa no município está ligada à agressividade do vírus. “No nosso entendimento essa mortalidade é decorrente da agressividade do vírus. Mas as estruturas que estão sendo montadas e usadas nos leitos de retaguarda e UTIs são estruturas dentro dos hospitais e com equipamentos necessários e que visam garantir todo o atendimento aos pacientes”, disse.

A pesquisa ainda revela dados que evidenciam a agressividade da doença. Pelo estudo, 46,3% do total de internados em UTIs acabam indo para ventilação mecânica. O médico intensivista, Marco Antonio Alterman, que atua em UTIs de três hospitais de Campinas e um de Paulínia, explica que o fato de não existir uma medicação direcionada e eficaz no combate ao vírus enquanto o paciente está entubado compromete a recuperação.

“O dano provocado no pulmão precisa ser revertido por ação do próprio organismo. Enquanto isso não acontece, nosso trabalho é manter o paciente vivo. A evolução da doença ocorre sem que haja condição de ser modulada pela medicina atual. Alguns não conseguem a almejada reação de seu organismo e definham para nosso desapontamento, frustração e tristeza”, relata o médico.

A médica infectologista Raquel Stuchi, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta para os riscos de infecção hospitalar inevitáveis e que elevam o risco dos óbitos. “A covid-19 não acomete só o pulmão. Normalmente o paciente tem os rins comprometidos entre outros problemas que aparecem. Isso aumenta o tempo de internação para até quatro semanas, aumentando o risco de infecção hospitalar. Os números são realmente assustadores”, conclui.

Fonte: https://correio.rac.com.br/_conteudo/2021/03/campinas_e_rmc/1073609-dois-tercos-dos-intubados-morrem-por-covid-em-campinas.html#