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Epimed Update – Revisando os escores prognósticos: Usando os escores prognósticos para a avaliação de desempenho das UTIs

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Desde 2009, o SAPS 3 é o escore recomendado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) para avaliação de desempenho de UTIs brasileiras, sendo utilizado como o escore padrão do projeto UTIs Brasileiras. Um estudo publicado em 2017 e conduzido em uma base de 48.861 pacientes internados em 72 UTIs brasileiras demonstrou que, ao comparar as três equações avaliadas (SAPS 3-EG, SAPS 3-ACS e MPM0-III), o SAPS 3-EG obteve o melhor desempenho na predição prognóstica para a população estudada. Por isso, naquele momento, era claro que o SAPS 3 era um escore adequado para a medida de desempenho e benchmarking de UTIs no Brasil.

Como interpretar o resultado dos escores?

A taxa de mortalidade padronizada (TMP) é o indicador mais comumente utilizado para representar a qualidade em uma UTI. A TMP corresponde à razão entre mortalidade observada e mortalidade esperada em uma determinada UTI. O denominador (mortalidade esperada) é gerado pelo escore a partir da gravidade atribuída àquele grupo de pacientes. Uma TMP menor que 1 (um) indicaria que a mortalidade foi menor que a esperada (eficácia clínica). Por sua vez, uma TMP maior que 1 (um) sugere que há um excesso de mortalidade em relação ao estimado pelo escore.

Dessa forma, a TMP é considerada uma representação global do desempenho de uma UTI. Outro indicador de qualidade amplamente utilizado é a taxa de utilização de recursos padronizada (TURP), que também é derivada do SAPS3. Esse indicador complementa a TMP, pois avalia o uso de recursos para a obtenção dos referidos resultados de mortalidade. A estimativa é obtida pela razão do tempo de internação observado (em dias) para todos os pacientes da UTI e o tempo de internação ajustado pela gravidade.

Assim, uma TURP maior que 1 (um) pode ser interpretada como o uso de recursos maior que o esperado para aquela UTI (considerando apenas o número de pacientes que sobrevivem à internação). Uma TURP menor ou igual a 1 (um) indicaria que o uso do recurso foi coerente com o esperado, ou seja, é uma UTI eficiente na alocação e uso dos seus recursos.

Indicadores como TMP e TURP podem servir para acompanhamento do desempenho de uma UTI ao longo do tempo e para comparação de desempenho entre UTIs (benchmarking).

Particularidades da análise de desempenho de UTI

  1. Alguns fatores podem falsear as taxas de mortalidade. Entre eles, destacamos: transferências para outras instituições para cuidados menos complexos e reabilitação, bem como para unidades críticas especializadas. Estas acabam sendo consideradas como altas hospitalares e podem produzir uma TMP artificialmente menor.
  2. De forma semelhante, a existência de estruturas como unidades semi-intensivas pode reduzir o tempo de permanência na UTI (e baixar a TURP) sem que necessariamente melhore a eficiência do hospital. Tais aspectos devem ser levados em consideração na análise da TURP, mas também podem ser vistos como oportunidades de melhoria de eficiência de UTI ao servirem como um modo operacional de menor custo e complexidade para retirar das UTIs, com segurança, pacientes de menor complexidade.
  3. Há ainda outros elementos nem sempre contemplados pelos escores prognósticos que podem contribuir para a diversidade dos resultados obtidos. Esses fatores têm associação com desfechos hospitalares, tais como: características dos pacientes (case-mix), comorbidades, fragilidade e capacidade funcional anteriores à internação e as relacionadas a processos de cuidado, como tempo até a internação na UTI, Strain e taxa de ocupação, dias e horários de internação e alta.

Portanto, TMP e TURP seguem como as principais métricas de desempenho de uma UTI, mas devem ser sempre avaliadas em conjunto com uma análise criteriosa de case-mix e aspectos organizacionais.

 

Acompanhe a série Epimed Update – Revisando os escores prognósticos! No próximo conteúdo, abordaremos o tema: Escores prognósticos para avaliação de gravidade. Fique por dentro das nossas comunicações!

Autor: Dr. Jorge Salluh, cofundador e diretor científico da Epimed Solutions, eleito pela Universidade de Stanford como um dos autores mais influentes do ano.