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Epimed Update – Revisando os escores prognósticos: O que são os escores prognósticos para UTIs: Evolução histórica

 

 

Nas últimas décadas, muitos escores e sistemas de classificação e estimativa de prognóstico foram desenvolvidos para as UTIs. Em geral, tais sistemas têm como objetivo quantificar a gravidade da doença, avaliar o prognóstico e eventualmente orientar tratamentos específicos. A heterogeneidade dos pacientes internados em UTI, o elevado custo dos cuidados e o alto risco de morte, além da possibilidade de comparar resultados entre UTIs, motivaram o desenvolvimento e a evolução de escores prognósticos para UTI ao longo dos anos.

A introdução do escore TISS (Therapeutic Intervention Scoring System), em 1974, marca o início do uso de indicadores de gravidade em terapia intensiva. Com o desenvolvimento do modelo APACHE no início dos anos 1980, os sistemas padronizados de predição de mortalidade passaram a ser rotineiramente utilizados na medicina intensiva.

Inicialmente, estes foram propostos como ferramentas para avaliação objetiva e estratificação de gravidade individual de pacientes. Tal abordagem inicial previa a identificação dos pacientes com pior prognóstico e, adicionalmente, a sua utilização como critério para entrada em ensaios clínicos. Contudo, observou-se que esses escores não eram apropriados para a avaliação individual de pacientes, tendo em vista sua imprecisão do ponto de vista individual para a tomada de decisão. Assim, outros usos passaram a ser mais frequentes.

Como cada faixa de gravidade dada pelo escore está relacionada a uma probabilidade de óbito, foi criada uma referência para verificar se a UTI teve resultados acima ou abaixo do esperado, o que possibilitou a condução dos primeiros estudos que comparavam performance de diferentes UTIs já em 1981! Desde então, os escores prognósticos passaram a ser utilizados na avaliação do desempenho das UTIs e vêm sendo incorporados às práticas gerenciais.

 

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Ao longo das últimas décadas, foi constatado que o desempenho dos modelos não é constante, isto é, eles tendem a deteriorar com o tempo. A evolução da medicina intensiva, a mudança de perfil de pacientes e a incorporação de novos tratamentos fizeram com que os escores mais antigos perdessem progressivamente a capacidade preditiva. Assim, os escores vêm passando por ajustes, de modo a aprimorar as suas equações.

As versões mais atuais dos escores prognósticos mais utilizados em UTIs são o escore APACHE IV, o SAPS 3 (Simplified Acute Physiology Score) e o MPM0-III (Mortality Probability Models). APACHE IV e SAPS 3 têm uma pontuação final correlacionada à gravidade do paciente. Após transformação logarítmica, esses escores entram em uma equação que determina a probabilidade de óbito.

Já para o MPM0-III, o resultado gerado é a própria probabilidade de óbito. Dessa forma, uma UTI gera a probabilidade média de óbito de seus pacientes para um determinado período (mortalidade esperada) e pode comparar com a mortalidade hospitalar real (mortalidade observada). A razão entre mortalidade observada e esperada gera a taxa de mortalidade padronizada, uma maneira objetiva e ajustada por gravidade de avaliar o desempenho global de uma UTI.

Atualmente, o SAPS 3 é o escore mais utilizado na América Latina e amplamente utilizado na Europa.

Seguiremos com o tema nos próximos artigos! Falaremos sobre os diferentes usos de escores prognósticos de UTIs, seus benefícios, limitações e futuro.

Para artigos de referência sobre o tema, veja:

ICU severity of illness scores: APACHE, SAPS and MPM

What every intensivist should know about prognostic scoring systems and risk-adjusted mortality

Clinical review: Scoring systems in the critically ill

ICU Scoring Systems

Autor: Dr. Jorge Salluh, cofundador e diretor científico da Epimed Solutions, eleito pela Universidade de Stanford como um dos autores mais influentes do ano.